segunda-feira, 15 de junho de 2015

Francesinha


Bufete Fase

Falar do Porto sem falar das Tripas é algo de grotesco e imperdoável e, para mim, igualmente inconcebível é não falarmos da Francesinha.
É claro que o Porto é muito mais que só Tripas e Francesinhas, mas como não se pode falar de tudo de uma só vez, da mesma forma como não se conseguem levar duas garfadas à boca ao mesmo tempo, vamos então por fases.
Nesta Fase, que por sinal é o nome do local em questão, o Bufete Fase, e para o meu estado actual de conhecimento, é o local onde se confeccionam as melhores Francesinhas que há! Não há como dizê-lo de outra forma que senão esta, sem rodeios nem papas na língua, nem mesmo bocados de bife por entre os dentes.
Não alvitro grandes conhecimentos sobre a natureza histórica deste petisco tão enraizado na alma das gentes portuenses, levado a manjar dos deuses, ao par de tantas outras iguarias.
Contudo, e para que conste, nos anais da Internet, e na pouca bibliografia que tenho cá por casa, consegui saber que a origem não é portuguesa.
A fonte mais fidedigna, parece-me, será mesmo a Confraria da Francesinha, que aponta a criação da sua primeira versão para 1953, pela mão de Daniel David da Silva, empregado d’A Regaleira, da Rua do Bonjardim, que andou emigrado pela Bélgica e França, inspirado num snack que por lá se comia, o “croque-madame”, uma versão belga do francês “croque-messieur”.
Ao longo do tempo a Francesinha evoluiu, do pão bijou dos anos 60, aumentando-se-lhe ao recheio e apurando-se o molho, para uma variedade grande de versões dos dias de hoje, que tem por base, o pão de forma cortado à mão, e o recheio constituído por fiambre, salsicha fresca, bife, linguiça, entremeado com queijo flamengo. Queijo por cima, vai a derreter (em alguns locais com forno a lenha) e por cima leva o afamado molho, o segredo da boa Francesinha.
Algumas versões levam ovo “ a cavalo”, à sevilhana leva camarões fora e dentro, e comummente encontramos a Francesinha acompanhada da batata frita (… alguns Mouros tentam fazê-la acompanhar de arroz, algo que é um crime!).

Mas no meio desta garatujada histórica não cheguei ao meu objectivo, ainda.
Lá chegarei a partir desta frase, a qual termino com ponto. Ponto.

Dizia eu sobre o Fase que, é este de facto o meu local de eleição, onde se confeccionam e degustam as melhores Francesinhas deste nosso Burgo.
Quem por aqui passa não sonha, pois o aspecto é simples, chega até a ser duvidoso, a fazer quase lembrar uma chafarica copofónica qualquer onde se mamam uns copos de três à mistura de umas sandes de presunto, num balcão de madeira corrido, pegajoso.
Nada disso, e se repararmos bem é pequena, funcional e, aqui trabalha-se verdadeiramente de manhã à noite para confeccionar as afamadas Francesinhas, que se consomem num espaço exíguo onde mal cabem as 15 cadeiras que por ali há, e eventualmente o mesmo número de pessoas. Contudo, e contrastando com os períodos entre as refeições, do almoço e do jantar, as pessoas acotovelam-se por entre a luta frenética de talheres e da mastigação, e de goles de cerveja que abrem lugar a consequentes e frenéticas garfadas, e pessoas que entram e saem, e outras desesperadas que gritam por mais molho, como se lhes faltasse o próprio ar que respiram!
A família que aqui trabalha, faz turnos a ajudar o Sr. José Meneses Pinto (há quem lhe chame “José Sempre em Pé”), pois nem para trabalhar há muito espaço e por vezes os clientes são quem chega as coisas ao vizinho da mesa ao lado, numa informalidade cúmplice e deliciosa, quase familiar.
O espaço por vezes é tão exíguo, e a procura tão violenta, que forma-se uma fila cá fora, que os donos rapidamente solucionam convidando de forma pouco ortodoxa o cliente libertar a mesa e a tomar o café ao balcão enquanto se chega à frente, com o vil metal para pagar a comezaina.

Mas que digo eu para aqui?
Mais me vale estar calado e concluir que por mais que eu tentasse nada saberia dizer para descrever este prazer para as papilas gustativas … excepto talvez … o orgasmo?...

Nota – as funcionalidades dos tempos modernos tornam possível levar o prazer desta Francesinha para onde quisermos, por isso pode-se dizer que o Bufete Fase acompanha as necessidades do ”homo-tecnologicus” no seu dia-a-dia, e por isso tem Take-Away.
Mas convenhamos que não é a mesma coisa!

https://www.facebook.com/pages/Bufete-Fase/279318019862?fref=ts
— with Bufete Fase and Francesinha.